Quem desdenha quer comprar!

Nas minhas voltas pelos blogues por vezes encontro alguns que me atraem irresistivelmente. Hoje dei de caras com Os arautos do estendal e adorei!!! Alguma razão há-de haver para eu ser considerada “gajo honorário”!
Vou já tratar de mandar o link do blogue para meia-dúzia de meninos-sérios e meninas-louras a ver se lhes acabo com o “estilo”!

Diário das minhas paixões (III)

El Che, decorou a minha cabeceira da cama durante anos a fio… Ainda guardo o poster, junto com alguns sonhos que o passar dos anos começaram a ganhar bolor. Mas o Che não. Na minha memória ficaram os relatos da Sierra Maestra, o perfil envolvido em fumo, e o sonho de um mundo melhor. Para sempre.

Amizade

Nos últimos tempos, têm-me dito “és uma sortuda, tens imensos amigos que te apoiam”, com um misto de incredulidade e inveja.
Sim, é verdade, tenho amigos, mas não penseique isso fosse motivo para estas constatações tão profundas.
É bom ter amigos, é bom conseguir mantê-los mesmo quando a vida dá tantas voltas.
Os amigos com A grande revelam-se quando estamos no fundo do poço.
Só eles têm coragem para descer à escuridão e ficarem connosco até que estejamos em condições de voltar à superfície.
Devo o ter voltado à superfície a duas pessoas especiais que estiveram comigo no fundo do poço este tempo todo: o N. e a L.
Ao N., o meu mais que tudo, que se esqueceu de si, para me dar 100%de atenção, 24h por dia, fez-me sentir que o Amor existe realmente e se mantém por anos e anos a fio.
Á L., a quem estraguei o dia de anos, a minha segunda mãe, uma das minhas melhores amigas, que infelizmente também conheceu o fundo do paço, mas teve coragem de voltar lá para me ajudar a vir à tona – “já te pedi em casamento hoje?”.
Obrigado por existirem e por serem meus amigos.
A Amizade é esquecermos a nossa existência para estarmos ao lado do outro.
E já chega de lamechices, por hoje!

O Dia do Pai é quando uma filha quiser…

O meu primeiro o meu mais antigo amor, é o meu pai. Meu herói e meu ídolo, e o grande responsável pelo que sou hoje, com tudo o que tenho de bom e de mau.

Aos cinco anos não havia felicidade maior que passear dependurada na mão do pai, enquanto me mostrava como era grande o horizonte, onde se escondiam os pássaros e como se comia a cana de açucar. Com o meu pai aprendi o nome das estrelas, a conhecer os bichos no escuro, o sabor do leite quente, a mudar o pneu do carro, e a vencer o medo. Quando lhe nasceram as netas vi no meu pai o mesmo olhar que me recordo de ver à noite antes de adormecer. “As princesas do avô”, assim lhe chamam os tios e os primos (todos homens) porque às suas meninas ninguém ralha, nem os chocolates fazem mal.
Foi o meu pai que me ensinou o amor aos animais e aos outros, e foi com o meu pai que aprendi a nunca faltar aos princípios e às convicções. “Nesta casa não há bufos nem vira-casacas!”, aprendi eu da primeira e única vez que vim para casa com queixas da escola. Só muito mais tarde percebi que a verticalidade do meu pai lhe rendeu amargas vitórias. Ao meu pai, que hipotecou a vida pelo futuro dos filhos, devo a felicidade.

Tchin Tchin!!!

No dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher, recebi pelo menos uma dezena de mensagens de parabéns! Coincidência ou não vieram todos de mulheres! Isto levaria qualquer um a pensar que me dou pouco com o género oposto. Desenganem-se. Trabalho oito horas por dia rodeada de gajos. E isto não é de agora. Há mais de uma década que os humores que me rodeiam são marcados pela agenda da Fórmula 1, campeonato nacional, Taça, Europeu, pelas negas da gaja do 5º esquerdo, pelo tamanho do telemóvel e último modelo da Honda… No meu dia-a-dia não faltam conversas sobre a “bola”, silicone e “…diz-me lá que esta gaja não é mesmo uma grossa?!”, a manchete da GQ, Maxmen e FHM e ultimamente a revista de Domingo do Jogo (segundo alguns: o mesmo estilo mas mais bardajona!). De há algum tempo a esta parte ganhei o estatuto de “gajo honorário” e segundo alguns já só me falta conseguir “m…. de pé!”. Para comemorar o dia Internacional da Mulher, os meus meninos apresentaram-me a um concurso da década de 90, que os fascinou de tal forma que nessa época quase trocaram os jogos da bola pelos ecrãs da SIC. (aqui) Digam lá se não sou uma miúda com sorte!

A minha avó

A minha avó tem 96 anos. O cabelo há muito que perdeu a cor e a vaidade. A minha avó nasceu em terras de raia alentejana e da sua beleza falam-me de vez em quando. “A rainha dos bailes”, chamava-lhe a tia Maria, a irmã mais velha, “não faltava a um, e se não a deixavam ir, pulava a janela!”. E, acredito. Filha de republicano, casada com um anarquista, a minha avô foi uma mulher de armas. Durante a Guerra Civil de Espanha, prenderam-lhe o marido mas não lhe dobraram a vontade. Depois foi a Pide que lhe levou o sobrinho para a António Maria Cardoso, lhe espantou filha e netos para terras de África, e manteve o resto da família em sobressalto. Nunca a espinha da minha avó se dobrou. Viúva aos 40 anos, arregaçou as mangas e fez da vida o futuro da filha única. Figura miúda, esguia, manteve as rédeas da família e do destino sempre curtas. E que não lhe falassem de mais homens “…para ganhar o pão, eu chego bem.” Não recordo de alguma vez ouvir a minha avó falar do tempo de antes, ou de lhe escutar remorsos ou lamentos. Mas, lembro-me de um desabafo que ainda hoje me faz o coração pequenino “…nunca fui ao jardim Zoológico”, e eu já não fui a tempo de lhe mostrar os bichos que só viu nas estampas ou na tv.

A minha avó cegou. É uma avó pequenina, dobrada pelos anos, com umas mãos esguias sulcadas de veias. No colo depositamos-lhe os bisnetos bebés que ela embala com lengalengas cantadas. E agora, pergunta muitas vezes porque é que ainda cá está. E nada a consola. Nem os beijos que lhe damos, nem os abraços dos meninos. Nada. Agora já não vê o céu nem a Serra de São Mamede, não pode regar as laranjeiras do jardim, nem sente a “brazia” das tardes Alentejanas. A minha avó está a despedir-se da vida.