Rascunhos (XII)

Cada letra, cada sílaba, cada frase e parágrafro. Um após outro. São construídos por sobre as minhas memórias, alinham-se sobre traços de sangue, por entre risos e lágrimas. São jangadas, são o que me sobra de todas as dores, de muitas saudades. As minhas palavras são verdadeiros esqueletos. Quando as escrevo já perderam os músculos que as ligavam à vida. Escrevo quase sempre sobre o que se perdeu, sobre o que ficou para trás, sobre ontem, sobre antes. Escrevo por medo que a memória me atraiçoe, seja sobre a doçura dos filhos ou os amores falhados, sobre as esperanças que cairam em becos sem saída. Escrevo por medo, escrevo a medo.

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