I’m the captain of my soul

Podia ser um mantra, mas não, é apenas a decisão de alguém que largou a âncora, e as pedras, e os pesos, borda fora. There is nothing to be afraid of … já não há medo, nem papões, gastou-se tudo e de repente, somos livres. Percebo agora o poder dessa grilheta chamada culpa, dessa prisão invisível do dever, e de repente I am free.

A Liberdade, explicada aos pequenos

Todos os anos, a 25 de Abril, conto às pequenas a história dos homens sem cor. E é difícil explicar a meninos pequenos, e a outros maiores, como é preciosa a Liberdade. Esta Liberdade que é nossa, que tão difícil foi de conquistar, tão frágil que tem de se cuidar todos os dias. Todos os anos, a 25 de Abril, explico às pequenas porque se veste a cidade de cravos vermelhos, porque se ouvem músicas que me fazem chorar, porque se abraçam soldados e civis, e se riem felizes os meninos de então. Todos os anos, a 25 de Abril, me esforço por recordar tudo o que me ensinaram os meus pais, e antes deles os meus avós. Para recordar que há coisas que nunca devem ser esquecidas para que nunca mais regressem.
Este ano a história também foi contada assim

25 de Abril

A liberdade

é um menino

de todas as cores.


A liberdade

é um guarda-chuva
a apanhar sol.

A liberdade
é um malmequer
a perfumar a própria sombra.

A liberdade
é uma baía
onde mora a poesia.

A liberdade
é uma andorinha
a desenhar a Primavera.

A liberdade
é ter asas e saber
voar com elas, através das janelas.

A liberdade
é a última coisa
que se pode perder.

José Jorge Letria

Happy birthday Mr. President

Nelson Rolihlahla Mandela nasceu a 18 de Julho de 1918 próximo a Umtata, capital da reserva de Transkei, e enquanto estudante de Direito, Mandela envolveu-se na oposição ao regime do apartheid. Juntou-se ao Congresso Nacional Africano (ANC) em 1942.
Após as eleições de 1948, ganhas pelo Partido Nacional apoiante da política de segregação racial, Mandela tornou-se membro activo do CNA, tomando parte do Congresso do Povo (1955) que divulgou a Carta da Liberdade – documento que continha o programa fundamental para a causa anti-apartheid.
Apesar do compromisso com acções não violentas, Mandela e os seus correlegionários aceitaram recorrer às armas após o massacre de Sharpeville (21 de Março de 1960) que levou à morte de 69 manifestantes negros desarmados abatidos pelas forças policiais sul-africanas. Esta tomada de posição levou à ilegalidade do CNA e outros grupos anti-apartheid. A partir de 1961 tornou-se comandante do braço armado do CNA, o chamado Umkhonto we Sizwe (“Lança da Nação”, ou MK), coordenando uma campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo
Em 1962 Mandela foi capturado (na sequência de informações fornecidas pela CIA ao governo sul-africano), e a 12 de Junho de 1964 foi sentenciado a prisão perpétua. Ao longo dos 26 anos seguintes, tornou-se um símbolo de oposição ao apartheid de tal forma importante que o clamor “Libertem Nelson Mandela” se tornou bandeira de todas as campanhas e grupos anti-apartheid em todo o mundo. Ainda na prisão, Mandela enviou uma declaração para o CNA, que viria a público em 10 de Junho de 1980, em que dizia: “Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a acção da massa unida e o martelo que é a luta armada devemos esmagar o apartheid!”
Tendo recusado trocar a liberdade condicional pela recusa em incentivar a luta armada (Fevereiro de 1985), Mandela continuou na prisão até 11 Fevereiro de 1990, tendo sido libertado por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk devido à campanha do ANC e às pressões internacionais. Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prémio Nobel da paz em 1993.
Mandela foi o primeiro presidente negro da África do Sul, Cargo que ocupou entre Maio de 1994 a Junho de 1999. Foi responsável pelo regime de transição e conquistou o respeito internacional pela sua luta prol da reconciliação interna e externa.
No final do mandato presidencial (em 1999), Nelson Mandela dedicou-se a causas de diferentes organizações sociais e de direitos humanos. Em Novembro de 2006, foi premiado pela Amnistia Internacional com o prémio Embaixador de Consciência 2006 em reconhecimento pela liderança na luta pela protecção e promoção dos direitos humanos.

Amanhã…

Amanhã… amanhã não vou descer a avenida. Tenho pena. Gosto daquela maré de gente a espalhar-se avenida abaixo, gente de braço dado, de cravo ao peito. Amanhã vou pôr um disco do Zeca a tocar bem alto, abrir as janelas e espantar as pombas do telhado com o som da “Grândola”. Amanhã vou sentir de novo as lágrimas contidas, o peito apertado ao lembrar-me de quem partiu, ao lembrar-me de quem chegou. Amanhã vou rever a imagem dos meus pais abraçados a chorar, vou ouvir de novo o som abafado do rádio em surdina, o barulho das tropas a chegar à cidade, e a minha mãe de “caixinha de primeiros socorros” a tratar quem chegava do mato. Amanhã… amanhã vou relembrar os dias cinzentos de quando cheguei a esta terra, e a felicidade imensa de poder encher a boca com a palavra “Liberdade”. Amanhã, vou festejar Abril.

Há dias assim…

Não me recordo quando é que a Alice Vieira entrou na minha vida. Lembro-me de ser pequena e de me terem oferecido o “Rosa, minha irmã Rosa”, e de o ter lido e relido vezes sem conta. Umas vezes de enfiada, outras saboreando capítulo a capítulo. Ainda hoje tenho esse exemplar de capa cor de rosa à espera que as minhas meninas cresçam para o poderem ler. Mas o que mais me fascina na Alice Vieira é a maravilhosa capacidade, o inegável talento, de nos falar das coisas simples, das coisas diárias, em tom de poesia ou como se se tratasse de uma maravilhosa história de encantar. Este Natal a MM lembrou-se deste meu gosto e deu-me de presente o “Pézinhos de Coentrada”. Não foram precisas mais de 3 dias para devorar este livro de pequenas histórias publicadas em revistas e jornais nacionais. Algumas já conhecia, outras não. O trecho que aparece em baixo é da minha história preferida. Fala da liberdade, desse liberdade interior que ninguém nem coisa alguma consegue roubar.
E hoje sinto-me assim, por detrás de uma janela fechada a ver o dia fugir… Há dias assim…

Porque qualquer janela serve para voarmos. Para sermos livres. Para imaginarmos outras vidas. Eu posso estar sentada aqui nesta cadeira, a fazer malha, e vocês olham para mim e são capazes de jurar que eu estou ao vosso lado, mas não estou, estou muito longe, a viver outras vidas, a ouvir outras vozes, a sentir outros cheiros, a amar outras pessoas. Por muitos cadeados que as janelas tenham, nenhum cadeado pode impedir os nossos sonhos de nos levarem onde quisermos.”

.

in “Pezinhos de Coentrada, pequenas histórias”, de Alice Vieira.

Há dias assim…

Não me recordo quando é que a Alice Vieira entrou na minha vida. Lembro-me de ser pequena e de me terem oferecido o “Rosa, minha irmã Rosa”, e de o ter lido e relido vezes sem conta. Umas vezes de enfiada, outras saboreando capítulo a capítulo. Ainda hoje tenho esse exemplar de capa cor de rosa à espera que as minhas meninas cresçam para o poderem ler. Mas o que mais me fascina na Alice Vieira é a maravilhosa capacidade, o inegável talento, de nos falar das coisas simples, das coisas diárias, em tom de poesia ou como se se tratasse de uma maravilhosa história de encantar. Este Natal a MM lembrou-se deste meu gosto e deu-me de presente o “Pézinhos de Coentrada”. Não foram precisas mais de 3 dias para devorar este livro de pequenas histórias publicadas em revistas e jornais nacionais. Algumas já conhecia, outras não. O trecho que aparece em baixo é da minha história preferida. Fala da liberdade, desse liberdade interior que ninguém nem coisa alguma consegue roubar.
E hoje sinto-me assim, por detrás de uma janela fechada a ver o dia fugir… Há dias assim…

Porque qualquer janela serve para voarmos. Para sermos livres. Para imaginarmos outras vidas. Eu posso estar sentada aqui nesta cadeira, a fazer malha, e vocês olham para mim e são capazes de jurar que eu estou ao vosso lado, mas não estou, estou muito longe, a viver outras vidas, a ouvir outras vozes, a sentir outros cheiros, a amar outras pessoas. Por muitos cadeados que as janelas tenham, nenhum cadeado pode impedir os nossos sonhos de nos levarem onde quisermos.”

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in “Pezinhos de Coentrada, pequenas histórias”, de Alice Vieira.