As consequências da verdade

“…mas agora sei que todas as pessoas fogem delas mesmas. Fugimos constantemente e depois, um dia, deixamos de correr e é nesse instante que morremos. Ninguém chega onde quer. Não lhe parece?” in “A Partisan’s Daughter”, Louis de Bernières (2008)

…há leituras de férias que não ajudam à festa, ai há, há….


[Crédito] Karen Toney Ramackers  “Girl running in woods” (www.studiozimages.com)

Marina

ilustração de Kelly Vivanco

“Durante anos fugi sem saber de quê. Julguei que, se corresse atrás do horizonte, as sombras do passado se afastariam do meu caminho. Julguei que, se criasse suficiente distância, as vozes da minha mente se calariam para sempre. […]A mesma luz daquele dia iluminou o céu e senti a sua presença com intensidade. Compreendi que já não podia nem queria fugir mais. Voltara a casa.”

Carlos Ruiz Zafón in Marina

A girl who reads

Date a girl who reads.
Date a girl who spends her money on books instead of clothes. She has problems with closet space because she has too many books. 
Date a girl who has a list of books she wants to read, who has had a library card since she was twelve.Find a girl who reads. You’ll know that she does because she will always have an unread book in her bag. She’s the one lovingly looking over the shelves in the bookstore, the one who quietly cries out when she finds the book she wants. You see the weird chick sniffing the pages of an old book in a second hand book shop? That’s the reader. They can never resist smelling the pages, especially when they are yellow.
She’s the girl reading while waiting in that coffee shop down the street. If you take a peek at her mug, the non-dairy creamer is floating on top because she’s kind of engrossed already. Lost in a world of the author’s making. Sit down. She might give you a glare, as most girls who read do not like to be interrupted. Ask her if she likes the book.
Let her know what you really think of Murakami. See if she got through the first chapter of Fellowship. Understand that if she says she understood James Joyce’s Ulysses she’s just saying that to sound intelligent. Ask her if she loves Alice or she would like to be Alice.
It’s easy to date a girl who reads. Give her books for her birthday, for Christmas and for anniversaries. Give her the gift of words, in poetry, in song. Give her Neruda, Pound, Sexton, Cummings. Let her know that you understand that words are love. Understand that she knows the difference between books and reality but by god, she’s going to try to make her life a little like her favorite book. It will never be your fault if she does.
Lie to her. If she understands syntax, she will understand your need to lie. Behind words are other things: motivation, value, nuance, dialogue. It will not be the end of the world.
Fail her. Because a girl who reads knows that failure always leads up to the climax. Because these girls understand that all things will come to end. That you can always write a sequel. That you can begin again and again and still be the hero. That life is meant to have a villain or two.Why be frightened of everything that you are not? Girls who read understand that people, like characters, develop. Except in the Twilight series.
If you find a girl who reads, keep her close. When you find her up at 2 AM clutching a book to her chest and weeping, make her a cup of tea and hold her. You may lose her for a couple of hours but she will always come back to you. She’ll talk as if the characters in the book are real, because for a while, they always are.
You will propose on a hot air balloon. Or during a rock concert. Or very casually next time she’s sick. Over Skype.
You will smile so hard you will wonder why your heart hasn’t burst and bled out all over your chest yet. You will write the story of your lives, have kids with strange names and even stranger tastes. She will introduce your children to the Cat in the Hat and Aslan, maybe in the same day. You will walk the winters of your old age together and she will recite Keats under her breath while you shake the snow off your boots.
Date a girl who reads because you deserve it. You deserve a girl who can give you the most colorful life imaginable. If you can only give her monotony, and stale hours and half-baked proposals, then you’re better off alone. If you want the world and the worlds beyond it, date a girl who reads.

Rosemary Urquico

… este blog fascina-me, faz-me chorar e rir, e hoje, com este texto que já conhecia tão bem por me dizer tanto, fez-me sorrir. E ainda cá está. O sorriso. E ouço ao longe frases antigas, e vejo as minhas pernas magras empoleiradas num muro,  e recordo livros, e os dias em que me perdi nos meandros das histórias, me perdi para lá de mim.

…de literatura e outras ciências …

…longe de mim fazer juízos de valor. Cada um vende o que tem e ninguém tem nada a ver com isso, muito menos o fisco! Mas daí a escrever um livro, não sei… o melhor resumo que me foi dado a ler nos últimos anos aqui sobre esse candidato ao Pulitzer da literatura “”Só Deus Me Julgará”, de Bastet, a mocinha da foto…só para distrair das coisas sérias da vida 🙂

Esta solidão que nos assola


“Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se de telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, “leves”, disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não aguentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.”

Miguel Sousa Tavares
in No teu deserto

Olhar e ver e absorver


“Um dia, porém, depois de mais uma paragem para colher imagens, ao regressa ao jipe vi que tinha ficado ao lado da pista, a olhar em frente, como se te tivesses desligado de tudo. Ia gritar-te, buzinar-te, quando qualquer coisa na maneira como tu estavas em pé a olhar o deserto, qualquer coisa na maneira como tinhas as mãos enfiadas nos bolsos, a cabeça ligeiramente inclinada de lado, o cabelo varrido pelo vento, me fez ficar quieto ao volante. E fiquei assim a observar-te até que tu te virasses e visses que estava à tua espera. Aprendi que é preciso dar tempo aos outros para olharem. Se não fosse para isso, porque teríamos nós vindo ao deserto?”
(…)
“A terra pertence ao dono, mas a paisagem pertence a quem a sabe olhar.”

Miguel Sousa Tavares
in No teu deserto

Paixão



“Ficava-lhe bem a saia. Um tecido baratinho, é verdade, mas de boa qua­lidade, linda cor, e com os retoques feitos em casa com a Singer da avó, moldava-lhe o corpo como uma luva de cetim. Caía-lhe lisa atrás. ajustava-se aos lados e uma barrinha como que em espuma dava graça às extremidades. Recordou um cartaz publicitário que dizia: «O mundo é teu. Atreve-te». Ela atreveu-se.

(…)

e começaram a ficar tão de acordo em tudo e a querer fazer algo de tão parecido com as suas vidas que de repente Mónica pôs um dedo nos lábios e convidou-o a ir à casa dela com uma frase que Silanpa nunca tinha ouvido, a primeira que escreveu num papel que guardou num dos bolsos da sua boneca: – Quero que me vejas nua».”

in “Perder é uma questão de método” de Santiago Gamboa

O poder das palavras


“Fiquei com medo das palavras. Apercebi-me do sofrimento que pode causar uma frase, e vocês perguntar-se-ão: como é possível que Aristófanes Moya tenha medo das palavras? Pois sim, senhores, muito medo. Mais que da faca de um fanfarrão ou da bala de um ladrão, com licença das damas aqui presentes. Porque as feridas que as palavras fazem não se curam no Hospital com álcool e soro mas com a mais pura tristeza, e não sangram mas ficam agachadas, esperando para nos saltarem para cima como essas aranhas, se me permitem o símile animal, que espreitam na escuridão para atacar o que lhes cai na teia. E então passei a ter medo de ouvir, de escutar as conversas dos grandes, e por isso ia para a rua atirar pedras, ou para o rio ver correr a água, ou subia às mangueiras e ficava à espera, ocupações naturais de uma saudável infância no campo. Porque o único som que não me assustava era o dos pássaros, o da cascata e o da camioneta que passava recolhendo gente que ia para Bogotá. E eu olhava de longe aquele autocarro colorido, e tinha­-lhe respeito porque sabia que um dia eu também subiria nele para vir para a capital.

in “Perder é uma questão de método” de Santiago Gamboa