É Natal….

…e andava precisada de muito riso e cores, e coisas boas, e beijos doces, e de meninos e meninas pequenas frente à lareira, e de pilhas de papéis e de rir (já tinha dito?) e lembrei-me desta cena do “Love Actually” e das gargalhadas que dei quando a vi :)…so enjoy, after all, Christmas has come.

365 dias de Natal


É Natal outra vez. Escoaram-se 365 dias por entre agruras e dias felizes, amigos que partiram e os que ainda cá estão. Cresceram as crianças e nasceram-me rugas e vincos. É Natal outra vez, e lembro-me da minha avó e abraço-me ao meu pai e aos meus irmãos. É Natal, uma vez mais, e nestes dias de azáfama e centros comerciais, sinto que o meu Natal é cada vez mais feito destes enfeites brilhantes que são a minha família de sangue e a família que fiz crescer à minha volta. E não desejo mais do que os ter por perto, à minha volta, aquecidos pela luz que se partilha entre nós. Porque o meu Natal é mesmo feito de amor, é só isso que peço de presente, ano após ano, após ano. E que não me fujam, que não sejam comidos pelos dias e pela vida porque a minha árvore iluminada não passa de um simples pinheiro de plástico sem a luz brilhante de cada um deles. Porque vocês são o meu Natal, 365 dias por ano.

It’s Christmas day!

 Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão

Outra vez natal

A minha avó partiu pouco depois do Natal e com ela desapareceu um pedacinho de mim. Guardo, ao longo dos dias, em que se acende a árvore, se embrulham presentes, se escolhe a ementa e os papéis coloridos, um soluço. Fica-me um nó por dentro e uma dor que escondo por detrás do sorriso e dos mimos que dou aos pequenos. Olho muitas vezes para as árvores do Saldanha, cúmplices das primeiras lágrimas amargas do último dia de avó, e sinto-as frias como eu. Amanhã será Natal, outra vez. E o meu coração aquece cada vez que descubro, nas caras dos pequenos, leves  traços da avó pequenina.

Pai Natal e a M.

Este ano, por causa das perguntas da M. o meu pai não se vestiu de Pai Natal.
Quando a M. chegou a casa dos meus pais as prendas já estavam na árvore.
E o discurso foi “o Pai Natal este ano tem muito trabalho pelo que veio mais cedo e já deixou cá as prendas. Mas só podemos abri-las logo à noite!”
Mesmo assim a M. esteve o tempo todo à sua espera.
Mesmo quando estava a abrir as prendas, como se vê no filme caseiro!
Para o ano será que ainda acredita no Pai Natal???

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