In Memoriam

Cinco dias e cinco anos separam as mortes de  Cunhal e  Saramago. Iguais na doutrina política, iguais na coerência das vidas, na saudade e no orgulho que nos deixam. Com a morte do criador da Blimunda senti que o meu mundo se esgota e se esvai, tal como senti há cinco anos atrás quando de cravo na mão subi lentamente a Morais Soares a despedir-me de uma amigo, de um mentor. O mundo tal como me foi ensinado, o mundo de gente admirável que conheci começa a terminar.
De Saramago vou guardar a imagem de uma festa do Avante distante e da vergonha que senti em lhe pedir um autógrafo.
Até sempre camarada, até sempre.

A maior flor do mundo…

… e de repente voltei a ser pequena, e lembrei-me dos esconderijos que construíamos em terras do Alentejo, os castelos mágicos onde era princesa e cavaleiro, o regato a fazer de mar imenso, o balir das ovelhas era o som de um terrível dragão, com paus e pedras se faziam enormes banquetes, e espadas com espigas douradas, e das folhas verdes nasciam navios prontos a zarpar para novas paragens.
Eu também não sei escrever histórias para gente pequena, e tenho pena.