Amorizade é…

…aquele momento em que o teu amigo de liceu, que te conhece desde os 12 anos, telefona preocupado porque não respondeste aos dois emails de piadas enviados no dia anterior, e acabas a prometer-lhe que se morreres antes dele o irás assombrar todas as noites.
(assim, de repente, fiquei com o coração aconchegado e com um sorriso pateta na cara, e apetece-me ter novamente 12 anos e estar com o J. no sofá a jogar no Spectrum)

So long pal :(

3pic: estava a fazer-te companhia…dei folga aos neurónios…
V.M: Para a cozinha… JÁ!!
3pic: 😛
V.M: Mau!
3pic:ó pá trabalha…
V.M: deves ser sueca!
3pic: sou, mas em moreno, e com mais pelo na venta 🙂
V.M: Ui…. ca bom!

Porque gosto de trabalhar aqui? Porque tenho diálogos destes, via Facebook, apesar de estar a um palmo do palerma em questão. Mas o palerma foi-se embora,e agora, como lhe disse, sinto-me amputada, um bocadinho como aqueles gajos a quem cortam o braço mas continuam a queixar-se de dores no cotovelo (chama-se síndrome do membro fantasma). Os três mosCÃOteiros perderam um membro na redacção, mas continuamos juntos, certo? Todos por um, e um por todos.

(e agora vou ali à casinha deitar umas lagrimitas discretas…palerma.)

O correr dos dias… (9)

O predio de três andares onde agora vivíamos, tinha um pátio traseiro, onde ficavam os quartos dos empregados, e era nesse pátio empedrado resguardado da rua, onde brincávamos, jogávamos à bola e corríamos feitos índios e cowboys.  Lá atrás, havia sempre cheiro aos fritos indianos da vizinha do terceiro andar que me enchia de doces peganhentos e de chamuças acabadas de fazer. Eu subia as escadas de serviço e sentava-me junto dela, na porta da cozinha, a trincar os fritos estaladiços e quentes enquanto ela me fazia festas na cabeça e falava na sua língua que eu não entendia. Gostava daquele cheiro, e da macieza do seu sari de seda sempre em tons brilhantes a lembrar os dias de festa. E do brinco no nariz que brilhava à luz do sol e outras vezes reflectia o azul do céu. Depois o Januário chamava, e e despedia-me a correr escada abaixo antes que a mãe chegasse e me fechasse de novo em casa com medo de me ver transformada numa menina de rua.
Mas do que eu gostava mais na casa nova era do Januário.O meu anjo grande, que me levava à escola pela mão ou às cavalitas para poder chegar aos ramos mais altos das árvores por onde passávamos. Que me mostrava as patas das centopeias e me ensinava macua, e a adivinhar a nuvem de gafatonhos que sazonalmente escurecia o céu durante um dia inteiro. Que se ria das minhas travessuras e me curava feridas e desgostos com rodelas de banana e fatias de papaia com açúcar.

Das memórias e outras histórias…

…tropecei neste rascunho, e deu-me pena deitá-lo fora, porque me recorda outros dias, outra gente, gente que partiu e que nos faz falta na memória e nos dias que hão-de vir.

“A primeira vez que levámos a patanisca à Berlenga, em 2002, tinha ela 8 meses. O pai, decidiu seguir uma tradição que admirava: ir com a filha ao carreiro dos Cações ver o pôr do sol. Ao final da tarde, carregava a miúda no “canguru” e subia a rampa até à curva de onde se vê o carreiro. Numa destas suas expedições, numa tarde em que a nortada se fazia sentir, a patanisca ria à gargalhada com o vento a bater-lhe na cara. Na subida, pai e filha cruzaram-se com o Almirante, que ao ver o ar feliz da bebé rapidamente a alcunhou de “Maria do Vento”.Pois bem, ficou a alcunha e muitas vezes, em dias de vento mais forte, recordo-me do almirante de chapéu desbotado a olhar encantado para o meu bébé feliz.”

Hoje tenho saudades. Saudades do antes e do durante. Saudades de gente louca que arrancava toques de corneta por tudo e nada, dos gritos e das dicussões e dos longos almoços ao som de mornas, das noitadas e dos fechos, das partidas e dos telefonemas. Tenho saudades dos abraços e das lágrimas que deixei no tampo da secretária, dos sorrisos cúmplices de quem se percebe sem falar, das minhas angústias e dramas, e dos dramas dos outros, de subir e descer a escadaria de pedra uma e outra vez. Tenho saudades das guerras de bolas, e dos gritos e discussões, do café e das horas do café com um, cinco dez amigos, dos cigarros na curva do corredor, das pilhas de slides e das gargalhadas. Tenho saudades saudades do meu riso. Tenho saudades de mim.

…em surdina

Este vai ser o primeiro Natal sem avó. É estranho que me doa assim a sua ausência. Mudou-se a mobília de sítio e os rituais. Este ano o almoço será fora, só nós os 4, e os olhos hão-de encher-se de lágrimas por alguns instantes porque me vou lembrar da sua ausência. Feliz Natal? assim será…mas em surdina, muito baixinho, vou murmurar a mágoa de a ter perdido…

Pensamento da semana … em formato vídeo…

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…e depois não durmo, e pergunto-me o que ando a fazer…

O caminho faz-se andando

Esta tem sido uma semana estranha. Em cinco dias (re)encontrei três pessoas do meu passado recente. Gente com quem partilhei muitos anos, alguns desgostos, inúmeras alegrias. Gente que me fez ser melhor e pior. Que me fez crescer, que me fez descer aos infernos e me fez vir à tona. E é engraçado ver que os dias nos mudaram o rumo, e que passados estes anos somos diferentes, somos melhores, somos mais fortes. Que hoje nos entendemos, nos perdoamos, nos respeitamos mais. Recebi um elogio, inesperado “Não sei se te disse isto – julgo que sim – mas sempre tive o maior respeito e admiração pelo teu trabalho e pela tua lucidez na altura em que tudo aquilo descambou” e de repente as lágrimas que me inundaram os dias durante dois anos passaram a ter um sentido. Durante muitos dias senti-me perdida, e triste, muito triste, e foi preciso esta frase para me fazer ver que afinal sempre é verdade que tudo vale a pena quando a alma não é pequena. Obrigado. Obrigado. Ontem fechou-se um capítulo de uma história ainda em aberto.
E hoje um telefonema curto “café?” sim, claro que sim, ou não fosse este uma das pessoas que me fez ser quem sou hoje, que me sacudiu a ingenuidade, que me fez ir mais além. Ou não fosse este a pessoa que sempre acreditou que eu sou capaz, que eu consigo e que me pediu, há muitos anos, para nunca perder o sorriso e a doçura. E agora sento-me aqui frente ao ecrã inundada de saudades, a lembrar quem fomos, o que fizemos. E apetecia-me dizer obrigado e segurar-lhe as mãos como em tempos ele me segurou as minhas enquanto me desfazia em soluços.
E dizer obrigado à vida e ao destino que me ensinou que o caminho se faz andando. Mesmo que se tropece. Mas sobretudo porque me deu gente que me mudou para sempre os dias.