Viagens da minha vida (2)


Estreei a idade adulta com a minha primeira viagem sem pais. Três miúdas, rumo a terras de França, com destino a Arras. As portuguesas iam engrossar a fileira dos aprendizes de arqueólogos que gastavam dias e mãos por entre o pó e os escombros ardidos da cidade romana. E foi bonito de ver, as três portuguesas  por entre tegullae e frescos, distribuídas por quadrados simétricos às voltas com o jargão francês e com baldes de terra. E num dia mais quente, que naquele norte o frio corre mesmo em Agosto, fomos de visita a terras vizinhas destruídas na I  na II Guerras Mundiais. Recordo-me de uma carrinha velha, nós as três e o canadiano Dave, de nariz espetado no vidro a ver a paisagem de planície, manchada mais à frente por gigantescas crateras de bomba que o tempo tinha suavizado com vegetação verde. E depois, mais à frente, parámos para fazer a pé o gigantesco e silencioso cemitério de  milhares de cruzes brancas encimado pelo monumento aos mortos tombados em combate, e o Dave a procurar um nome conhecido, e eu a segurar as lágrimas e a pensar que tudo aquilo era triste, tão triste. Tão triste quanto a resposta que me deu o arqueólogo quando lhe perguntei no palácio-museu, se as marcas na pedra da fachada das traseiras se deviam à corrosão. Ele sorriu, abanou a cabeça dizendo “Non, sont des trous de balle, les Allemands fusillaient les éléments de la résistance ici“. Estreei a idade adulta em terras de França a ver o tamanho da morte e a agradecer, pela primeira vez, a paz.

Viagens da minha vida (1)

Os destinos que me fascinaram não implicaram destinos exóticos, nem praias paradisíacas e muito menos resorts de muitas estrelas. As viagens que me marcaram, traçaram-me estradas no corpo, e na alma, e posso dizer que transporto em mim um imenso atlas onde os rios e as fronteiras são indeléveis. Essas viagens, as reais, as passionais, todas me acrescentaram, me fizeram crescer, me fizeram ser, o que sou.
A primeira viagem que me recordo mudou-me o destino, mudou-me de continente e afastou-me de tudo o que conhecia. Tinha seis anos e sei agora que aquela dor intensa que sentia, enquanto via os meus pais a ficar para trás, se chama desespero. Depois do abraço do meu pai,  agarrei-me à mão do meu irmão mais velho com a força que só o medo de uma menina pode imprimir aos dedos. Dessa viagem, desse instante, ficaram-me as memórias do meu pai, e a minha mãe com o irmão pequeno ao colo, a acenarem lá longe, na varanda do aeroporto, enquanto os meus olhos se enchiam de distância. Essa viagem inaugural persegue-me até hoje, será por isso que poucas vezes digo adeus, prefiro um “até já”.

Regresso a casa


E cá estou de novo, no rectângulo!
Soube bem a curta estadia de 2 dias.
O tempo estava fantástico.
O recepcionista do Hotel Madeira e do Restaurante dos Combatentes cumprimentaram-se efusivamente, relembrando que já não ia lá há uns bons meses.
Mas o pior foi o jet lag.
Não o dos horários, porque a hora se mantém, mas o da temperatura.
É que no espaço de hora e meia perdi 9 graus.
Passei dos mornos 23 para os gélidos 16.
E hoje, em vez do pullover, tenho vestido ainda um casaco de Inverno.
Enfim, cá estou com as minhas saudades de umas “mini férias” de trabalho!

Regresso…

à Ilha da Madeira.
Sim, estou de volta.
Confesso que já tinha saudades.
Escrevo este post ainda no rectângulo, mas com alguma ansiedade:

  • de rever os amigos
  • do bom tempo
  • das flores
  • das senhoras sempre tão arranjadas e bem vestidas
  • dos cafés e esplanadas
  • do mar
  • do Hotel Madeira e da simpatia dos seus funcionários, em especial do Sr António José
  • de bolo do caco
  • das ruas cheias de lojas e de pessoas

É bom ir à Madeira a trabalho.

Nunca lá fui de férias.

Acho que não gostaria.

É demasiado turística (ao contrário dos Açores).

Mas quando vou a trabalho, acabo por aproveitar muito mais.

Consigo saborear a beleza da Ilha.

E mereço umas “férias” do escritório.

O ambiente anda pesado!

Assim, vou arejar para um sítio bonito e acolhedor.

E espero trazer comigo estrelicias e safaris!!!

Para continuar a desfrutar e a saborear outro cantinho do Mundo.

Nota: A foto, embora de uma estrelicia, foi tirada na Ilha da Graciosa, nos Açores.

Sexta-feira no Continente!

Finalmente terminaram os sábados a dar formação na Madeira.
Sim, todos os sábados de Maio!!!
Até os SMS da família eram emotivos:
Pai – “Uma beijoca com amor” (e o meu pai não é nada lamechas, pessoal!)
Mana – Já tenho saudades. Bjcs” (outra arisca!)
Mãe – “Dorme bem” (esta sim é “maricas”)

Rabisquei o seguinte texto numa das sextas-feiras à noite:

Estou deitada em cima da cama. A um canto a tv passa as noticias da visita do Sócrates à Madeira. Em frente, a parede é uma janela enorme com vista para a encosta do Funchal. Lindo! Em som ambiente, ouço jazz, tocado no Jardim de Inverno do Hotel, no andar abaixo.

Estou só, pensando em nada. Em paz comigo mesma nos minutos em que rabisco estas notas soltas.

Por muito cansativo que seja viajar para aqui num dia e regressar no seguinte; lidar com a correria das reuniões; com a humidade que faz com que a roupa se cole à pele assim que se sai do avião; propiciam-se sempre momentos preciosos comigo mesma. Este é um deles!”

Pois… é que eu reclamo, mas até gosto! E até vou ter algumas saudades das flores, do bolo do caco, da simpatia madeirense, das ruas do Funchal,…
Senão vejamos, onde é que eu ia buscar inspiração para alguns posts?!
E deixo-vos com mais umas pérolas madeirenses:

Um dos meus formandos resolveu substituir o chão da loja, que era de tijoleira, por um chão “insuflável”, segundo as suas palavras. “Oh doutora, não é tão frio, é mais bonito, tem “pinta” e é mais fácil de limpar, não acha?

Outro perguntou-me “olhe, por favor, crescem-lhe folhas?“, quando queria perguntar se eu tinha folhas a mais!!!

Saudades, saudades… mas agora vou curtir alguns dias por casa.
E matar saudades da família, pois já não os vejo há um mês!!!

Jet leg ou jet set?

Na sexta-feira fui num instantinho à Madeira e regressei no Sábado à noite.
A trabalho, claro!
E não sofri de jet leg (a hora é a mesma na Madeira e no Continente), só de choque térmico como diz a SM.
O que sofri foi de jet set!
Querem que explique? ok.
Fui com o nosso 1º. Sim, respirámos o mesmo ar.
Mas foi de uma enorme antipatia pois não cumprimentou os restantes passageiros.
Nem mesmo um “bando” de velhotes que iam em excursão para a Madeira e que sustiam a respiração sempre que a cortina, que nos separa da 1ª classe, se abria.
Uma decepção porque o Alberto João também se “pirou” rapidamente e os velhotes ficaram sem falar com eles. Mas, pelo menos viram-nos ao vivo e a cores!
E no regresso viemos com a equipa do Sporting. Só conheço o Paulo Bento, confesso. E parecem todos uma cambada de putos da secundária, mas como sou do Benfica… não foi assim tão entusiasmante como podia ter sido.
Até porque isto do jet set é uma treta porque os voos atrasam sempre e eu quero mesmo é o meu sofá!!!

Era só o que me faltava!!!



Há anos que os meus colegas me avisam “quando saíres do aeroporto vai apanhar táxi nas partidas!”, mas nunca tive problemas antes, pelo que este Sábado não foi excepção. Ao chegar da Madeira, lá fui eu para a fila de táxis.

Assim que entrei no táxi e disse a morada o motorista começou a falar entredentes. Quando chegámos à morada indicada o motorista parou a meio da rua, embora tivesse espaço para encostar e antes que eu pudesse pagar, saiu do táxi, dirigindo-se à bagageira. Tive também que sair do veículo e tirar as malas da bagageira. O motorista esticou a mão para o pagamento, mas eu voltei a entrar pois não tinha visto a conta da viagem somada com o transporte de bagagem. Aí dentro tive que pedir ao motorista que tirasse o boneco que estava em cima do taxímetro e que tinha uma perna a tapar os valores. Claro!! Tinha que ser um “artista fraudulento”, claro está!

Dei-lhe uma nota de 20,00€, arredondei o valor para 9,00€ para facilitar o troco (eram 8,45€) e pedi um recibo. O motorista disse-me que não tinha troco e que eu era obrigada a ter uma nota de valor mais baixo, ao que lhe respondi que tínhamos que ir procurar troco pois não tinha comigo valor mais baixo e que não saia do carro sem o troco.

Fechei a porta e fomos até um café a cerca de 100 metros de distância. Deu-me 10,00€ e começou a passar o recibo. Eu disse que ainda faltava troco. Uma vez mais de forma agressiva, disse que “ainda não se tinha ido embora”. Deu-me troco de 8,45€ (não aceitando o valor de arredondamento).

Despedi-me com um “boa noite” e respondeu-me “vá pela sombra que o sol está quente”. Antes de fechar a porta disse-lhe que o problema era estar à espera de um grande trajecto e afinal ter sido um percurso relativamente curto. Ficou a insultar-me enquanto eu fechava a porta, mas não quis ouvir.

Voltei para o meu prédio, subi as escadas e telefonei imediatamente para a Teletáxis! Soube aí que o dito “profissional”, ainda por cima, é fiscal!

E, hoje de manhã, enviei um email formal a reclamar (com cópia para a Deco), pedindo que tomem medidas disciplinares contra o dito “profissional”!!! A minha vontade era ter poder para o despedir. “Profissionais” destes só trazem mau nome às empresas! Sim, porque sou cliente da Teletáxis há muitos anos e nunca tive qualquer tipo de problema. É a minha empresa de eleição quando preciso de chamar um táxi, até porque têm um número de telefone, fácil de memorizar.

Era só o que me faltava: viajar na sexta à noite para a Madeira, trabalhar Sábado o dia todo, regressar a Lisboa à noite (voo que atrasou), querer desesperadamente o meu sofá e apanhar um estafermo destes!!!



De volta à estrada!


Nas próximas semanas regresso às minhas viagens pelo país.
A mala sempre pronta, no corredor, qual caixeiro viajante!
Não me importo.
Gosto de estar em movimento.
De ver coisas novas, pessoas diferentes.
O que me custa são as saudades do rosto e dos abraços de quem trago no coração: o N., a mana, a M., a L. e a M.
Estes têm um cantinho especial.
Sempre que me recordo de um gesto, um comentário, uma piada, um momento partilhado, solta-se um sorriso espontâneo!
Que seria de mim sem eles?!
Por isso eu vou, mas levo-os comigo, pois são tudo o que eu tenho e tudo o que eu preciso.
Fiquem bem!
Se passar em algum sitio interessante, “roubo” uma imagem e trago para partilhar convosco!